Uma das minhas leituras favoritas é a obra de Sêneca, orador romano. Um estoicista por excelência! Lendo "aprender a viver", que traz muitas citações suas, percebi uma verdade que ainda não havia descoberto."Amar mais, esperar menos."Preciso esperar menos.
Tentar transformar o amor em palavras é o mesmo que decifrar e contar os saltos do meu coração. Pra mim, sinceramente, é impossível. O amor me embaraça e eu me perderia no caminho.
Por mais que eu tente criar teorias sobre como explicá-lo ou tentar de alguma forma desesperada achar a certeza da sua imortalidade, ainda assim, enfeitiçada, não se faz concreto.
Amor é suspiro. É segundo, minuto.
Mas, me permita o atrevimento, já estive com ele.
Minha tentativa agora se faz ao redor de um cheiro, de um toque, de um segredo. Um beijo...
Um encontro que esperei por dias... esperei por muitos dias. Até que, de tanto esperar, não acreditei que tinha chegado o momento. Diante de mim, todas as minhas expectativas, os meus sonhos, meu desejo à minha espera numa noite fria num lugar distante. Eu estive com ele. Minha mão protegida de forma firme em outra, meus olhos atentos, meu sorriso desobediente me entregava. A despedida e um corte na alma. Um coração não mais inteiro. Estive com quem me roubou um "canto", uma esquina, tirou uma pedra. Voltei um pouco menor, mas na bagagem, a companheira de muitas noites, a saudade.
Saudade esta que destruiu limites por não aguentar esperar. E transformou-se na cavalaria num campo de batalha, lanças apontadas, escudos. O soldado estava indo ao encontro de quem o fez conhecer o choro silencioso, escondido. Esperança, como comandante, guiando seu coração. Permissão: e a cavalaria invade! O "inimigo",entretanto, ausente. Começava então a pior de todas as lutas, lanças cravadas no próprio peito, escudos no chão. Volta pra casa um exército derrotado pelo seu pulso. Ao chegar, cansado e com o horizonte apagado, o soldado sofre. Lágrima que arde, que rasga.
Avante, bravo guerreiro! Perde-se a batalha, não a guerra. Levanta-te e aponta tua lança à estrela-guia da nobre cavalaria.
O amor que tu encontraste, o amor que não aceitou "lutar" quando fostes ao seu encontro, ainda pode estar vagando pelos campos. Hei de encontrá-lo. Talvez com a mesma armadura, como queres. Talvez com uma nova roupagem. Ama-o novamente, soldado, não sabes se é por isso que ele tanto almeja.
Me confunde cada vez mais a distância entre minhas lembranças e minha realidade.Lembrança é aquilo que grava, marca, é sinal. Como se estivesse pregado em algum lugar em mim. E quando estou só, fecho os olhos... Busco nas minhas lembranças uma voz, um rosto... Ainda de olhos fechados e coração aos saltos, entre lágrimas, vou à outro momento, revivo. Misturo realidade com essa minha vontade de voltar. Me faz sofrer. A gente não volta. Tenho que aprender a separar o real do que passou.
Agora já não sou a mesma, o antes e o depois se definem. Não apaguei aquele momento, não me esqueçerei dele enquanto viver. "esperar menos". Deixar que os próprios caminhos cumpram o que já lhes foi definido e que me levem para junto de quem me espera. Torço para que seja alguém com o mesmo tom, o mesmo passo que vi numa caserna militar.
Porque, repetindo Sêneca, "o destino conduz o que consente, mas arrasta o que resiste."
Eu persisto, insisto e resisto. Mesmo aprendendo a não esperar.
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"Quem sabe até a vida pague essa promessa."