25 de outubro de 2008

CASA NOVA

Tô preparando a casa para voltar.
De um jeito diferente. De um jeito melhor. Com mais esperança. Tô me preparando para voltar pra mim.
E o coração ficou muito grande sim! Mas eu nunca disse que ficaria vazio... E é por isso que vou voltar.
Foi para mostrar que o que se foi... foi. E eu voltei porque o essencial ficou. Não vai nunca embora.
Preciso ficar aqui pra inventar outras maneiras de viver. Tentar muito mais. Rir muito mais. Discutir coisas tantas, coisas vagas e coisas cheias.
Quero as noites mais longas, os dias mais duradouros. Descobri que quero mais tempo.
Vou arrastar as correntes, vou enfrentar a fila.
Tô me preparando pra voltar porque eu enfrentei uma cavalaria e agora estou muito, mas muito mais forte!
Volto mais leve. Sem esperar. Sem contar o tempo, sem contar os planos.
Quero menos cores pra ser mais simples. Mas quero todas as cores pra ser mais feliz! Dessa vez e a alma que coloriu.
Volto com lágrimas legítimas. Com armadura nova.
Tô preparando a casa pra voltar e colher todas as flores que plantei.
Eu vou voltar.

HISTÓRIA DE UM SOLDADO

Uma das minhas leituras favoritas é a obra de Sêneca, orador romano. Um estoicista por excelência! Lendo "aprender a viver", que traz muitas citações suas, percebi uma verdade que ainda não havia descoberto."Amar mais, esperar menos."Preciso esperar menos.
Tentar transformar o amor em palavras é o mesmo que decifrar e contar os saltos do meu coração. Pra mim, sinceramente, é impossível. O amor me embaraça e eu me perderia no caminho.
Por mais que eu tente criar teorias sobre como explicá-lo ou tentar de alguma forma desesperada achar a certeza da sua imortalidade, ainda assim, enfeitiçada, não se faz concreto.
Amor é suspiro. É segundo, minuto.
Mas, me permita o atrevimento, já estive com ele.
Minha tentativa agora se faz ao redor de um cheiro, de um toque, de um segredo. Um beijo...
Um encontro que esperei por dias... esperei por muitos dias. Até que, de tanto esperar, não acreditei que tinha chegado o momento. Diante de mim, todas as minhas expectativas, os meus sonhos, meu desejo à minha espera numa noite fria num lugar distante. Eu estive com ele. Minha mão protegida de forma firme em outra, meus olhos atentos, meu sorriso desobediente me entregava. A despedida e um corte na alma. Um coração não mais inteiro. Estive com quem me roubou um "canto", uma esquina, tirou uma pedra. Voltei um pouco menor, mas na bagagem, a companheira de muitas noites, a saudade.
Saudade esta que destruiu limites por não aguentar esperar. E transformou-se na cavalaria num campo de batalha, lanças apontadas, escudos. O soldado estava indo ao encontro de quem o fez conhecer o choro silencioso, escondido. Esperança, como comandante, guiando seu coração. Permissão: e a cavalaria invade! O "inimigo",entretanto, ausente. Começava então a pior de todas as lutas, lanças cravadas no próprio peito, escudos no chão. Volta pra casa um exército derrotado pelo seu pulso. Ao chegar, cansado e com o horizonte apagado, o soldado sofre. Lágrima que arde, que rasga.
Avante, bravo guerreiro! Perde-se a batalha, não a guerra. Levanta-te e aponta tua lança à estrela-guia da nobre cavalaria.
O amor que tu encontraste, o amor que não aceitou "lutar" quando fostes ao seu encontro, ainda pode estar vagando pelos campos. Hei de encontrá-lo. Talvez com a mesma armadura, como queres. Talvez com uma nova roupagem. Ama-o novamente, soldado, não sabes se é por isso que ele tanto almeja.


Me confunde cada vez mais a distância entre minhas lembranças e minha realidade.Lembrança é aquilo que grava, marca, é sinal. Como se estivesse pregado em algum lugar em mim. E quando estou só, fecho os olhos... Busco nas minhas lembranças uma voz, um rosto... Ainda de olhos fechados e coração aos saltos, entre lágrimas, vou à outro momento, revivo. Misturo realidade com essa minha vontade de voltar. Me faz sofrer. A gente não volta. Tenho que aprender a separar o real do que passou.

Agora já não sou a mesma, o antes e o depois se definem. Não apaguei aquele momento, não me esqueçerei dele enquanto viver. "esperar menos". Deixar que os próprios caminhos cumpram o que já lhes foi definido e que me levem para junto de quem me espera. Torço para que seja alguém com o mesmo tom, o mesmo passo que vi numa caserna militar.
Porque, repetindo Sêneca, "o destino conduz o que consente, mas arrasta o que resiste."
Eu persisto, insisto e resisto. Mesmo aprendendo a não esperar.
#
"Quem sabe até a vida pague essa promessa."

21 de outubro de 2008

MAURÍCIO

Falei sobre você hoje. Nunca havia contado sobre aquelas tardes.
Contei sobre as "não-aulas", as falsas impressões... Do camarim: "vá e faça o que você sabe fazer de melhor."
Ainda ouço "esquinas" com frequência e minha alma (você estava certo) é mesmo "uma coisa de interior, se esconde", mas as minhas sapatilhas agora apenas decoram o quarto.
Você deve continuar na boemia. As noites por aí terminando com sua voz, seu violão e todo o talento. É o que você faz de melhor!
Tá aqui comigo aquele papel rabiscado, lembro do momento. Sempre uma boa lembrança, Maurício.

Seu poema:



*



Faltou alguma coisa. (inspiração)

Poemas acordam num estalo
Saltam da pena sem pena ou dó
São escritos com carinho ou ódio
Inspirados ou não, surgem.

Calam, consentem, estupram sentimentos,
Horrores, temores, como cabem nele?
Saem de todas as mentes.
Bons, ruins e obras de arte.

Já disseram que tudo cabe no poema
Até o próprio poema.
Até o poema "duzôto".



Parando por aqui...
Maurício 11.12.2003, 18h
P/ Juliana com a admiração. No auge dos meus 31, discutindo muito bem!!


20 de outubro de 2008

ESTRELAS

Não, Vinícius! Não mudei de idéia, não mudei de predileção. O seu "Soneto do Amor Total" continua sendo o que sempre foi: o que me toca. Tudo aquilo que eu gostaria de ouvir, tudo aquilo que eu gostaria de recitar foi escrito por você. Porque "amo-te, enfim, com grande liberdade/ dentro da eternidade e a cada instante" me acalma. Mas "amo-te como um bicho simplesmente/ de um amor sem mistério e sem virtude" me agonia... " e de te amar assim, muito e amiúde/ é que um dia em teu corpo/ hei de morrer de amar mais do que pude" me completa, satifaz.
Então, não duvides da minha devoção.
Mas não tenho as visto, Vinícius, quando chego à janela. Mandei-as embora quando assim fui também.
E agora me fazem falta, receio que não voltem. Ah, meu bom Vinícius, você teria inventado uma Bossa sobre tudo isso!


Para que elas não se percam de mim:


Ouvir Estrelas


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!"
E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto, Cintila.
E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".



Olavo Bilac.

17 de outubro de 2008

DETALHES

Os dias têm sido intensos.
As tantas idas e vindas, partidas e chegadas.
Eu nem tinha me dado conta que tem sido assim sempre.
Mas não têm sido dias iguais. Há os detalhes. Aqueles impossíveis de prevê na noite anterior quando tento projetar o dia seguinte; durante o café, quando calço o tênis e monto o sanduiche.
A sequência dos atos é a mesma, a casa é essa, não troco a marca do leite, o pão tá esquentando enquanto dobro a coberta no quarto e meu irmão está sempre dormindo quando saio. Mas às vezes ele acorda antes. E o detalhe de ouvir a TV do quarto dele ligada no noticiário muda toda aquela manhã. Quando bato a porta a rotina está montada, eu é que tô diferente.
Na confusão de leis e artigos, na concentração do silêncio, a caneta sempre de tinta azul, o horário determinado, meu nome na lista de presença, o caderno atento... tudo assim. E aí vem aquela conversa de voz baixa na sala, o comentário que não podia esperar. Mais uma vez: horários, listas, saída, compromissos. Eu que mudei.
O silêncio da concentração, as leis determinadas, livro aberto, folhas riscadas e uma boa piada quando já não se aguenta tudo isso!
Volto pra casa. Rotina cumprida por hoje. Mas nunca como tentei prevê, eu fiz a letra e os detalhes, a melodia.
O dia vai terminar, como sempre. Já é noite. Eu é que vou dormir diferente. Depois de imaginar como será amanhã, claro.

15 de outubro de 2008

NOTA DO AUTOR

Bom, vamos lá.
Um blog. É, não pode ser tão difícil assim.
E isso não significa mudar velhos hábitos, não é? Ainda está na gaveta meu caderno e o lápis com a ponta mal feita marcando a última página... Indicando a próxima.
Fundamental o registro de que a idéia não foi minha. Nunca seria!
Eu estava em casa num sábado. Minha mãe viajando, Guilherme em Alagoinhas, meu pai também, Pinduca longe. Aos poucos contarei quem são essas pessoas. Estava só.
Começei a ler, então, um texto em um blog. A leitura certa na hora certa. Lá se podia fazer comentários. Não ressalvas! Comentários... Fiz.
Li muitos!
Admiração.
Sinceridade profunda, desesperada. Com segurança, entretanto. Mas também li dúvidas, desabafos.
Enfim, escrever é "alívio". E dá pra inventar.
P.S: autor não tão desconhecido. Não tão conhecido.
Mas já sei onde estão os textos, e lá também está o autor.
Acabo de lembrar de um trecho do livro "O Pequeno Princípe", quando o principezinho e a raposa se encontram pela 1ª vez.
Não me canso de exaltar esse livro.
Crime com co-autoria.
Terminei meu dia lendo um catálogo de acertos. Conheci e reli citações. Me fizeram pensar. Me permitiram conhecer. Quantas coisas que eu também gostaria de ter dito.
E foi assim que terminou. Ou foi assim que começou?
Prometo não esqueçer login, senha, atualização, comentários. Na verdade não prometo. Tento.

*

Por fim, por você: minha tentativa.